sexta-feira, 28 de março de 2014

na Agência USP - As várias faces do amor em Paulinho da Viola



“Eu sou assim, quem quiser gostar de mim eu sou assim.
Eu sou assim, quem quiser gostar de mim eu sou assim.
Meu mundo é hoje não existe amanhã pra mim
Eu sou assim, assim morrerei um dia.
Não levarei arrependimentos nem o peso da hipocrisia.
Tenho pena daqueles que se agacham até o chão
Enganando a si mesmo por dinheiro ou posição
Nunca tomei parte desse enorme batalhão,
Pois sei que além de flores, nada mais vai no caixão.
Eu sou assim, quem quiser gostar de mim eu sou assim” (*)

Meu mundo é hoje
Paulinho da Viola 

Músicas do sambista e compositor em sintonia com a Filosofia
                                                 



Há um diálogo entre as artes e a Filosofia. “Assim como o filósofo cria um discurso, o cancionista cria a canção. Sua expressão artística então é também um modo de pensar o mundo, uma filosofia”, analisa a cantora e filósofa Eliete Eça Negreiros.
Inspirada em parte da obra do cantor e compositor Paulinho da Viola, Eliete empreendeu um estudo na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP: Paulinho da Viola e o elogio do amor. Na tese de doutorado defendida no final de 2012, ela analisa composições de Paulinho, ou por ele interpretadas, traçando paralelos com autores e pensadores da filosofia e da literatura, contemporâneos e antigos, como Epicuro – filósofo da Grécia Antiga –, Olgária Matos, filósofa e orientadora do estudo, José Miguel Wisnik, docente do Departamento de Letras da FFLCH, Platão e Walter Benjamin, entre outros. Mesmo tendo o compositor como tema central do estudo, outros nomes da canção popular também são lembrados. Entre eles, Nélson Cavaquinho, Cartola e Dorival Caymmi.
Ao traçar tais paralelos, ela observa então como o amor é representado nestas canções. Para tanto, fez um “recorte” dividindo o sentimento em: amor breve; amor melancólico; amor feliz. “Optei por fazer um ensaio abordando estes recortes e a relação deles nas canções de Paulinho com filósofos significativos de nossa tradição cultural”, descreve.
Num trabalho que levou cerca de quatro anos para ser concluído, Eliete conta que, ainda este ano o trabalho será publicado em livro. Aliás, o mesmo caminho de sua dissertação de mestrado. Em março de 2011, a cantora lançou, em São Paulo, o livro “Ensaiando a canção: Paulinho da Viola e outros escritos”, fruto da pesquisa Ensaiando a Canção: Paulinho da Viola, apresentada na mesma FFLCH em 2002.

Os amores
Eliete mostra que a concepção de amor nas composições de Paulinho, ou nas canções que ele canta, quando representado como “o amor breve”, filia-se à tradição do pensamento ocidental que desde os gregos reflete sobre a fragilidade da condição humana e a brevidade da vida. Como num trecho da música “Aquela Felicidade”: Aquela felicidade que você conheceu/ Um dia, na minha vida, já terminou....
O compositor carioca traz em sua lírica a melancolia. “Ela é um dos modos da representação do amor em suas canções”, observa a pesquisadora. É neste espaço que a filósofa descreve o amor melancólico em seu trabalho. E mais uma vez cita o compositor, na música “Nada de novo”: Nada de novo capaz de despertar minha alegria. Para Eliete, a compreensão desse amor melancólico deve levar em conta, a partir das análises de Freud sobre o luto e a melancolia, a maneira pela qual ele e o amor se entrelaçam em sua obra e, em particular, a dificuldade do melancólico em esquecer o passado.
Já em relação à felicidade, ao “amor feliz”, Eliete descreve que há várias concepções de felicidade na obra de Paulinho. “Desde a noção epicurista de felicidade enquanto busca do prazer, até a noção estoica de felicidade enquanto resistência ao sofrimento”.

Vanguarda Paulistana
Eliete Negreiros canta profissionalmente há 32 anos. O início de sua carreira se deu com o movimento Vanguarda Paulistana. Iniciado em meados do final da década de 1970, o movimento foi referência à geração musical da época (até metade da década de 1980).
A Vanguarda Paulistana teve como personagens, além da própria Eliete, músicos como Itamar Assumpção e Arrigo Barnabé, os grupos Rumo, Língua de Trapo e Premeditando o Breque, e as cantoras Vânia Bastos e Ná Ozzetti, entre outras.
É desse movimento que nasceu o LP independente “Clara Crocodilo”. Lançado por Arrigo Barnabé com a banda Sabor de Veneno, o trabalho mescla o rock com arranjos dodecafônicos e atonais da música erudita. O disco foi considerado uma referência fonográfica da Vanguarda Paulistana.
Eliete gravou seu primeiro disco, “Outros Sons”, em 1982. Somente dez anos mais tarde viria a gravar uma música de Paulinho da Viola, Para ver as Meninas, no disco “Canção Brasileira - A Nossa Bela Alma”. "Cresci ouvindo Paulinho, Wilson Batista, Gal Costa, Bethânia e tantos outros. Posso dizer que as canções do Paulinho da Viola me acompanham por toda vida.”


Uma audição especial (*)
   Após uma agradável conversa sobre a música e a filosofia em Paulinho da Viola, Eliete nos brindou com uma audição única e exclusiva. Solicitada por nosso repórter fotográfico, Marcos Santos, a posar para fotos junto a um piano, a artista preferiu o violão.
    Delicadamente, tomou o instrumento nas mãos e, da mesma forma, interpretou a música de Paulinho da Viola “Meu mundo é hoje”, cuja letra abre esta matéria.
Um sorriso "autorizou" o acompanhamento

Naquele ambiente silencioso, enquanto Marcos fazia seu trabalho, me deixei levar pela música que foi interpretada em tom de um ensaio. Claro que sou admirador confesso da obra deste sambista e não resisti a tentar acompanhar Eliete, de forma discreta. “Que indelicadeza”... Mas a informalidade, que deu o tom ao nosso bate papo, acabou por encobrir meu abuso. E bastou um sorriso sincero de Eliete! Eu estava perdoado!

domingo, 9 de março de 2014

na Agência USP - Observações feitas no Havaí reforçam teoria do Big Bang

Descobertas recentes feitas por cientistas do Brasil e do exterior derrubam algumas discrepâncias a cerca dos primeiros minutos após o Big Bang – a grande explosão que originou o universo. A partir de dados de alta qualidade obtidos com o telescópio de 10 metros (o maior do mundo) do observatório Keck, localizado em Mauna Kea, no Havaí (EUA), os astrônomos acabam de eliminar uma discrepância que durava décadas. “Observações anteriores de estrelas muito antigas sugeriram que a quantidade de lítio-6 (Li-6) teria sido 200 vezes maior que o produzido nos primeiros minutos após a grande explosão, e que o lítio-7 (Li-7) entre três e cinco vezes menor que o calculado por cosmólogos e físicos teóricos”, conta o professor Jorge Meléndez, do Departamento de Astronomia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP.




Modelagem detalhada de pequena parte de
uma estrela velha pobre em metais
As observações recentes permitiram constatar, por meio de dados do telescópio Keck e de sofisticados cálculos, que o Li-6 não existe nas estrelas mais antigas de nossa Galáxia, o que está de acordo com os cálculos sobre a nucleossíntese do Big Bang, eliminando assim um dos principais problemas cosmológicos da atualidade.

na Agência USP - Pesticidas contaminam a fronteira agrícola da Amazônia

A análise de três diferentes cenários agrícolas permitiu a cientistas brasileiros e do exterior avaliarem os prejuízos que podem ser causados pelo uso equivocado de pesticidas na fronteira agrícola da Amazônia brasileira, bem como apontar possíveis soluções. Uma das constatações se refere às ocasiões em que a frequência recomendada de utilização dos produtos foi excedida, chegando até 96% entre pequenos produtores.
De acordo com o coordenador da pesquisa, professor Luís César Schiesari, do curso de Gestão Ambiental da Escola de Artes Ciências e Humanidades (EACH) da USP, os dados são referentes ao consumo de pesticidas e ao impacto nos mamíferos e organismos aquáticos daquela região. Os estudos tiveram início em 2005.

Cientistas avaliaram prejuízos que podem ser causados por pesticidas
Num dos cenários os pesquisadores avaliaram a atuação de 220 pequenos produtores de frutas e verduras em quatro cidades da região central da Amazônia, na várzea do rio Solimões. “Foi lá que detectamos o excesso na frequência de uso dos pesticidas: em 96% dos casos, pesticidas foram usados com maior frequência do que a recomendação técnica”, conta Schiesari. Em parte, isso ocorreu porque estes produtores têm pouca informação e falta assistência técnica para que eles utilizem adequadamente os defensivos agrícolas.